Todo dia a mesma noite é o mais novo livro de Daniela Arbex
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Foto: JR Faria Studios |
Todo dia a mesma noite é um livro bem elaborado pela esplêndida
escritora Daniela Arbex. Experiente, premiada e
uma excelente jornalista investigativa, ela vem com seu mais novo livro tratando
sobre a tragédia da Boate Kiss. Um trabalho bem intenso, mas que pode ser conferido nas
páginas dessa bela obra.
Para escrever a obra, Daniela analisou as 20 mil páginas
que compõem o Caso Kiss na Justiça. Além disso, fez mais de 100 entrevistas com
personagens de Santa Maria. Incluindo mães e pais de vítimas, sobreviventes,
peritos, o ex-prefeito da cidade e até profissionais de saúde que pela primeira
vez falaram sobre o caso.
Depois de transcritos, os depoimentos ocuparam cerca de 5
mil páginas no computador da autora. Com base nesse material, ela reconstrói cenas
do dia do incêndio, mostra como o episódio abala ainda hoje a cidade e dá aos
números e aos fatos a dimensão humana necessária.
É por essas e outras que jornalistas como ela precisam
ser valorizados, afinal não deixa o verdadeiro jornalismo morrer.
Confira abaixo a entrevista que ela deu para nosso Blog.
Regis Thiago - Como surgiu a ideia de investigar mais a
fundo esse fato?
Daniela Arbex - Muitas vezes, o jornalista não escolhe as
histórias que quer contar, mas é escolhido por elas. Isso aconteceu com a Kiss,
quando, em 2016, um radialista do meu grupo de comunicação, Marcos Moreno, me
mandou uma mensagem pelo Facebook dizendo que precisava conversar comigo.
Na redação, ele me disse que tinha conhecido uma
enfermeira de Santa Maria e que eu "precisava contar essa história".
Na hora, sorri, e disse que Santa Maria ficava do "outro lado do
mundo" e que todo mundo já tinha contado essa história. Mas ele insistiu e
a atitude dele mexeu comigo.
Comecei a procurar as famílias pelas redes sociais, para
saber como estavam, e a primeira mãe que me respondeu disse que eles precisavam
ser ouvidos. Depois disso, peguei um avião e fui para o Rio Grande do Sul.
R.T. - Qual seu objetivo em publicar o livro sobre a
Tragédia da Boate KISS?
D.A. - Nacionalizar a tragédia e fazer com que as pessoas
se coloquem no lugar do outro, criando empatia com esse evento, entendendo o
tamanho da devastação provocada pela dor, mas também pela falta de justiça.
R.T. - Qual sua maior dificuldade em realizar uma
investigação deste caso, aparentemente abafado para que fosse esquecido? Houve
alguma retaliação?
D.A. - Não houve retaliação, mas enfrentei muitas
dificuldades, entre elas a distância de casa. Durante dois anos, viajei cinco
vezes para Santa Maria deixando meu filho que hoje tem seis anos. Lidar com o
tsunami que foi a Kiss também afetou muito a minha rotina familiar. Vivi o luto
deles.
R.T. - Alguns dos responsáveis por conceder alvarás,
licença de funcionamento, além de realizar vistorias e outros protocolos não
cumpridos enquanto a boate funcionou, escaparam do processo. Com seu livro,
você procura dar voz aos familiares das vítimas e sobreviventes do incêndio?
D.A. - Não só aos parentes das vítimas e aos
sobreviventes, mas aos bombeiros, aos profissionais de saúde que atuaram no dia
do evento, ao ex-prefeito da cidade, ao Ministério Público.
R.T. - O livro Todo Dia a Mesma Noite toca na ferida com
relação à impunidade Brasileira quando há envolvimento de poderosos
empresários, juízes e até mesmo políticos. Você acredita que seu livro tendo
alcance internacional ajudará a contribuir nessa luta contra essa impunidade?
D.A. - Acredito muito que o livro vai criar uma nova
consciência em relação ao evento e também em relação ao descumprimento de
deveres funcionais por parte de agentes públicos que usam a burocracia para
justificar as falhas.
Só construindo memória é que a gente se empodera para não
mais repetir os erros do passado e o Brasil ainda não tinha passado essa
história a limpo, como “Todo dia a mesma noite” faz agora.
Livro: TODO DIA A MESMA NOITE
Autor: de Daniela Arbex
Páginas: 248
Impresso: R$ 39,90
E-book: R$ 19,90
Editora: Intrínseca
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